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Há 200 anos, Quixeramobim destituiu o imperador e proclamou a República



Em 9 de janeiro de 1824, a Câmara da vila de Campo Maior, atual município de Quixeramobim, declarou a destituição do imperador do Brasil, Dom Pedro I, e da dinastia de Bragança. Os políticos reunidos em Quixeramobim decidiram instaurar no Brasil uma “República estável e liberal”.

Esse ato foi um precursor importante da Confederação do Equador, um dos movimentos revolucionários mais significativos da história do Nordeste. De natureza separatista, o movimento teve início em 2 de julho de 1824, quando Manoel de Carvalho Paes de Andrade proclamou a independência de Pernambuco e convocou as províncias vizinhas a aderirem. O objetivo era formar uma nova nação composta por Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Pernambuco. Os cearenses não apenas deram apoio decidido ao movimento, como o anteciparam em seis meses.

A revolta teve como causa principal a dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador. Em 3 de maio de 1823, os parlamentares se reuniram para iniciar a elaboração da primeira Constituição brasileira. Contudo, diferenças de opinião entre os deputados e o imperador surgiram nos debates sobre temas polêmicos. Em 12 de novembro de 1823, durante a “noite da agonia”, Dom Pedro ordenou que o Exército invadisse o plenário da Constituinte, resultando na prisão e exílio de parlamentares. Esse evento foi o estopim para a proclamação de Quixeramobim.

A histórica ata da sessão da Câmara de Campo Maior registra: “(…) em vista à horrorosa perfídia de D. Pedro I, imperador do Brasil, banindo a força armada as cortes convocadas no Rio de Janeiro contra mil protestos firmados pela sua própria mão, ele deixava a sua dinastia de ser o supremo chefe da nação e se novas cortes convocadas em lugar tudo assim o aprovarem”. Além disso, os membros da Câmara instituíram um novo regime, substituindo a dinastia imperial por uma “República estável e liberal”.

A Câmara de Quixeramobim também determinou que o general José Pereira Filgueiras assumisse o comando das tropas do Ceará para estabelecer um “novo governo salvador” na província. A posição foi articulada pelo vereador padre Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Mello, conhecido como Padre Mororó, natural de Riacho dos Guimarães (atual Groaíras).

No entanto, a proclamação de Quixeramobim não foi acatada. Dois meses depois, Dom Pedro outorgou uma Carta conforme sua vontade, instituindo um quarto poder – o Moderador – exercido de forma pessoal e privativa pelo imperador, acima dos outros poderes. Essa Constituição centralizadora vigorou até a queda do Império em 1889, quando a República foi finalmente proclamada.

Apesar de não ter sido imediatamente bem-sucedida, a proclamação em Campo Maior desencadeou uma reação em cadeia. A Câmara de Aracati expressou indignação semelhante, defendendo um governo mais descentralizado. Pernambuco formalmente iniciou a Confederação do Equador em julho. Além do Ceará e Pernambuco, a Paraíba e o Rio Grande do Norte aderiram, enquanto as vilas piauienses deram apoio. O movimento esperava o suporte de Alagoas e Sergipe, mas a resposta da Confederação foi reprimida de maneira extrema por Thomas Cochrane, mercenário inglês contratado por Dom Pedro.

Os desdobramentos foram trágicos, com líderes como o vereador Padre Mororó, Pessoa Anta e Feliciano Carapinima sendo executados. A repressão atingiu até mesmo o presidente da província de Sergipe, Manuel Fernandes da Silveira, que foi deposto por colaborar com os revoltosos. O resultado final foi a duração prolongada da Constituição de Dom Pedro e a proclamação da República apenas em 1889. A proclamação em Campo Maior, embora não tenha alcançado êxito imediato, marcou o início de uma série de eventos que moldaram a história do Nordeste brasileiro.

Fonte:

https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/quixeramobim/2019/01/ha-195-anos-quixeramobim-destituiu-o-imperador-e-proclamou-a-republic.html

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